terça-feira, 27 de setembro de 2011

Por que ou para quem escrevo?


Há quem escreve por tudo e para tudo,
mas sem sentimento algum,
apenas para agradar as pessoas ou realizar caprichos.
Porém melhor do que rótulos
é o prazer de exprimir em palavras aquilo que sente
e fazer da escrita uma arte.
Escrever é fazer orações que subordinadas,
submissas ou insubordinadas a quem lê,
cria mundos e constrói pensamentos.
Por isso, escrevo pelo simples prazer de escrever,
sem querer aplausos ou conquistar medalhas.
Escrevo porque as palavras, não escritas,
latejam em mim como feridas abertas
e o remédio é transcrevê-las.
Sendo elas doces, amargas, duras ou de amabilidades extremas.
Éverton Abreu

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sonhos


Sonhos e imaginação

Lembro-me, com saudades, dos tempos de criança em que sonhava ser um vaqueiro. Passava a mão em um cabo de vassoura qualquer, amarrava capim na ponta e imaginava ser o meu alazão. Corria em volta da velha casa, de chão batido, e seguia rumo ao campo, meus pezinhos iam levantando poeira e eu continuava a correr.
Quando o vento batia no meu rosto e esvoaçava os meus cabelos, ralos e negros como de um índio, pensava o quanto meu cavalo era veloz. Sentia o coração de menino bater no compasso do trote e via-me galopando em meio aos morros, cortando os estradões, segurando bem firme o barbante que eu fazia de rédeas.
Arqueava uma das mãos e gritava, bradando e encorajando meu companheiro a correr mais rápido. Minha imaginação se fazia mais ligeira do que meu cavalo, e quando abria os olhos me via ladeado de outros cavaleiros, todos seguindo o mesmo rumo. Eu, porém, era o mais valente deles e comandava a tropa.
Subíamos o morro da Gaivotinha. Encontrávamos um grande rebanho de gado. Corríamos ao seu encontro e eu tomava a frente, já preparado com uma corda, em uma das mãos, pronto para a laçada e para enfrentar o boi corisco que dizia-se mais valente que eu. Conduzíamos todo o gado de volta ao cercado e todo o suor valia a pena.
De volta a casa respirava com alívio e ar de missão cumprida. Despedia-me dos meus amigos, sentava no banquinho e começa a imaginar se no outro dia a aventura seria a mesma. Ficava ali longe com meus pensamentos de menino sonhador até ser interrompido por minha mãe. Antonio, venha tomar banho para jantar!
                                                                                                           Éverton Abreu

domingo, 18 de setembro de 2011

Meu primeiro soneto.

No mês de Agosto, por ser dedicado à família, nossa CEB's ficou responsável por criar uma poesia, paródia ou música, em homenagem à Santo Ezequiel Moreno. E como passaram a bola para mim, arrisquei-me em criar um soneto. Porém não consegui desenvolver todos os versos de forma que ficassem decassílabos (dez versos), alguns estão hendecassílabos (onze versos). Mas valeu a experiência.

Soneto à Santo Ezequiel
Desde menino já tinha vocação,
cresceu e cursou o bom caminho.
Da família recebeu com carinho
o sentido do que é ser cristão.

Nos agostinianos, a missão
que com fé seguiu o seu destino,
ajudou a muitos pequeninos
e dos grandes recebeu humilhação.

Enfim! Mostrou o que é ser fiel,
e a se doar com o coração,
o moreno e santo, Ezequiel.

Câncer, morte e eterna salvação,
beatificado foi no papel,
deixando pra nós a grande lição.

Marcadores: CEB's (Comunidade Eclesial de base). A minha é a São Cristovão.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011


Recordei-me deste texto, que produzi no período passado, ao fazer um exercício avaliativo na matéria de morfologia em que usava o "Poeminha do contra".

Seguindo em frente

Amo o conotativo e a subjetividade que a literatura pode proporcionar e, assim, levar um texto à varias interpretações que podem ser usadas a nosso favor ou contra.
Certa vez ouvi um colega, da sala de aula, a quem admiro pela inteligência, declamar com paixão o “Poeminha do Contra” de Mario Quintana e depois de declamado o poema, acrescentou: “ Para quem não sabe ler um pingo é letra”.
Com certeza foi uma indireta a alguém. Embora não tenha sido para mim, fiquei instigado em estudar o poema, pois um pingo pode ser muito mais do que letra.
Possivelmente, esta foi a forma que compreendi no momento, que o poema foi usado para dizer algo a quem se opõe em seu caminho. “Estes passarão enquanto eu continuo”. Essa, porém, é uma das interpretações.
Segundo o dicionário Priberam, os verbetes passarão e passarinho tem dois significados e se a pessoa atingida basear-se em qualquer um dos dois, advogar-se-á muito bem.
No primeiro significado encontramos o aumentativo e o diminutivo do substantivo pássaro. Dentro deste significado, podemos dizer que a pessoa atravanca o caminho por ser um pássaro grande e, de certo, o mais forte subjuga o mais fraco, ou seja, vence o mais forte.
Antes que alguém diga “ou não”, podemos, sim, dizer que a situação pode ser o contrário, mas para o fraco vencer, tem que ser muito esperto.
No segundo, encontramos o verbo passar na 3ª pessoa e o verbo passarinhar na 1ª pessoa do singular. Sendo possível a interpretação: Os que atravancam meu caminho passarão,  enquanto eu vadio. Pois passarinhar é o mesmo que vadiar.
Cheguei a conclusão de que antes de ser indireto com alguém, tenho que avaliar o que digo, pois isso pode ser usado contra mim. De forma alguma quero bater de frente com alguém e estou aqui para ser amigo de quem quer ser meu amigo.
Declaro não ter nada contra ninguém e meu objetivo aqui é muito mais do que richas, porque a “Aquila non captat muscas”. O meu alvo vai mais além. E sei que estou aqui de passagem, pois tudo passa.
Mas como diz, o próprio, Mario Quintana: “As únicas coisas eternas são as nuvens”. Eu, porém, acrescento que o único eterno é Deus. Não quero passarinhar, quero, sim, seguir em frente com dignidade, sabedoria e cabeça erguida.
Éverton Abreu